segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Referências Cruzadas

Uma das coisas que passou pela minha cabeça já faz algum tempo é um tipo de frase que se usa muito quotidianamente, aquelas que contém trechos como: "O pai e o filho", "A mãe e a filha", "O avô e o neto". De repente algo me fez estranhar esse tipo de frase. São frases que possuem dois indivíduos que estão relacionados de alguma forma e onde define-se um indivíduo levando em consideração o outro, numa referência cruzada.

Não tendo nada a ver com o assunto que quero discutir aqui, mas isso me faz lembrar de um provérbio popular que diz: "Tal pai, tal filho" (Qualis pater, talis filius). Inclusive esse ditado virou título de um seriado de tevê, onde pai e filho eram ambos médicos, o filho seguindo os passos do pai. Outros casos de pais e filhos famosos são: Darth Vader e Luke Skywalker; Bob Pai e Bob Filho; Deus e Adão; Kirk e Michael Douglas; e um personagem do Chico Anysio que sempre reclamava do pai dizendo "Pô, pai!". Também há casos de avós e netos conhecidos como é o caso de Erasmus e Charles Dawin, ambos tendo sido famosos naturalistas, tendo este último desvendado o mistério do surgimento das espécies e mudado definitivamente a nossa forma de pensar sobre a vida.

Pais e Filhos famosos
Esse negócio de referência cruzada pode causar uma grande confusão. Pensemos inicialmente na situação "Pai e Filho". Ora, quem é pai logicamente é pai de algum filho, e quem é filho logicamente é filho de algum pai. Será que dizer "pai e filho" não é algo redundante? Não sei, talvez. Mas olhem só, quando nos referimos ao primeiro sujeito da dupla, ao pai, usamos o segundo para caracteriza-lo, e quando nos referimos ao segundo, ao filho, usamos o primeiro. Vejamos, temos uma dupla onde olhamos para o primeiro, o mais velho, e perguntamos: "Quem é?". Daí usamos o segundo, o mais novo, para responder: "É o pai dele.". Então olhamos para o segundo, o mais novo, e perguntamos: "E quem é esse?". Daí usamos o primeiro, o mais velho, para responder: "É o filho dele.". Não está tudo respondido apenas com uma pergunta e resposta? Sim, está. Atribuir a paternidade a um dos indivíduos implica obrigatoriamente na filiação do outro, e vice-versa. Por isso acho um pouco estranho a frase "Pai e Filho". É que usamos um para definir o outro, como num circulo vicioso. Acho que seria mais sensato a frase: "Um homem e seu filho" ou "Um garoto e seu pai". Talvez assim evitássemos a redundância cruzada, se é que queremos evita-la.

Mais estranho ainda é o caso onde inclui-se outra geração: o avô. Vejamos o que significa a frase: "O avô, o pai e o filho". Digamos que o sujeito "1" é o avô, o "2" é o pai e o "3" é o filho. Então, quando dizemos "o avô" estamos usando o sujeito "3" como referência, quando dizemos "o pai" também estamos usando o sujeito "3", e quando dizemos "o filho", daí estamos usando o sujeito "2" como marco referencial. Poderíamos dizer que o esquema 3-3-2 define o sistema referencial desta frase. Percebem que a referência muda ao longo da frase? Isso não é estranho? E se eu quiser usar outras referências, será que faz o mesmo sentido? Vejamos, eu poderia dizer: "O pai, o filho e o neto", daí as referências agora seriam 2-1-1. Isso contrasta frontalmente com o sistema 3-3-2 que usei anteriormente, apesar de significar absolutamente a mesma coisa. Naquele caso o sujeito "1" era definido pelo "3" (sendo seu avô), mas neste último caso é definido pelo "2" (sendo seu pai). Naquele primeiro caso o sujeito "2" era definido pelo "3" (sendo seu pai), mas neste último caso é definido pelo "1" (sendo seu filho). Sei que parece um pouco confuso, mas prestem bem atenção que dá para entender.

Dá para perceber que só existem algumas possibilidades para o sujeito "1": ou chamamos ele de avô do "3" ou de pai do "2". Da mesma forma, o sujeito "2" é filho do "1" ou é pai do "3". E o sujeito "3" ou é neto do "1" ou é filho do "2". Então teríamos as seguintes possibilidades de frase com os respectivos esquemas referenciais: "O avô, o pai e o filho" (3-3-2); "O avô, o pai e o neto" (3-3-1); "O avô, o filho e o neto" (3-1-1); ou "O pai, o filho e o neto" (2-1-1). Essas 4 possibilidades querem dizer a mesma coisa: o sujeito "1" sendo o ancestral dos outros dois, o sujeito "2" sendo descendente de "1" e ancestral de "3", e o sujeito "3" sendo descendente de "1" e "2". O curioso é que podemos usar qualquer um deles para definirmos quem é o outro e montamos nossas frases usando essa referência cruzada e mutante. Se não usássemos as referencias cruzadas poderíamos ter: "Um homem, seu filho e seu neto", "Um homem, seu pai e seu filho", “Uma criança, seu pai e seu avô". Nesses três casos a referência não muda ao longo da frase, onde os dois último sujeitos sempre são definidos pelo personagem principal. Naqueles casos de referência cruzada, parece que o personagem central muda ao longo da frase. Por isso que eu fico em dúvida. Quando alguém fala "O pai e o filho", quem é o personagem principal e quem é o coadjuvante? Usa-se um para definir o outro, num círculo lingüístico, num verdadeiro paradoxo existencial de um ponto de referência cruzado que muda ao longo da frase.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Existe alguma utilidade prática nisso????!!!!!

terça-feira, janeiro 23, 2007 2:40:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

E precisa?

terça-feira, janeiro 23, 2007 6:31:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Utilidade prática, não sei se há. Como a Luana observou: "E precisa?". Foi apenas uma das inúmeras elocubrações mentais que se passou pela minha cabeça. Talvez pudesse ser usado em uma redação de vestibular para evitar repetições, usando sistemas referênciais distintos em diferentes casos.

quarta-feira, janeiro 24, 2007 9:54:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

kkkkkk...

quarta-feira, janeiro 24, 2007 11:48:00 AM  
Blogger Elizeu Neto said...

e o Juliano ainda se pergunta pq a gente fala q ele viaja!!
fala sério hehehehehehe

quarta-feira, janeiro 24, 2007 11:59:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Essa foi elocubração mental mesmo!

sexta-feira, janeiro 26, 2007 12:56:00 AM  

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