quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Super-Heróis Impossíveis

Todos sabemos que os super-heróis usualmente desafiam as leis da natureza. Agora chega num ponto que eles exageram e que eu fico extremamente incomodado com suas características e poderes. Tudo bem que são personagens fictícios da imaginação humana, mas têm vezes que eles ultrapassam os limites de formas muito estranhas. Temos que dar um desconto, pois na maioria dos casos seus criadores não conhecem as leis que governam o universo. Vejamos algumas inconsistências entre alguns super-heróis e as mais básicas leis da física, química e biologia.

Acho que o super-herói mais famoso é o Super-Homem, por isso vou começar por ele. Teve uma cena no filme "Super-Homem II" (Superman II) que me deixou bastante incomodado. Nesse segundo filme, os vilões, fora o Lex Luthor, são três conterrâneos de Clark Kent, ou seja, são três kryptonianos. Assim sendo, eles têm exatamente os mesmos poderes do Super-Homem. Numa das cenas eles usam o poder conhecido como "super sopro" para causar uma confusão nas ruas de Metrópolis. Eles basicamente enchem os poderosos pulmões de ar e sopram o ar numa velocidade muito grande e que causa um verdadeiro furacão. E eles ficam soprando durante alguns minutos, causando uma destruição básica de qualquer vilão. Carros voam pelos ares, pessoas são levadas pelo vento, postes são derrubados e por aí vai. Eu não tenho nada contra que eles sejam extraterrestres de Krypton e que tenham super poderes. Quem sou eu para reclamar disso, afinal? Mas uma coisa é certa: o volume de ar que eles conseguem soprar é absurdamente desproporcional a capacidade pulmonar dos seus corpos. Simplesmente não cabe aquela quantidade de ar nos seus pulmões. E eles nem pegam fôlego durante a cena, só no começo. Os pulmões humanos (já que eles têm corpos humanos – comento sobre esse outro problema logo depois) tem a capacidade de reserva inspiratória de, no máximo, 6.000 cm3, ou seja, 6 litros de ar. Se eles quiserem usar seu "super sopro" que usem, agora são obrigados a pegar fôlego continuamente e rapidamente já que o ar tem que sair também em alta velocidade. E eu não sei se a eficácia desse "super sopro" ficaria adequada se eles tiverem que fazer uma "super inspiração" depois de cada "super expiração" (acho que o "furacão" ficaria meio que descontínuo). Se eles não pegarem fôlego e ficarem soprando e soprando durante minutos, teríamos que supor que aquele vento está entrando nos seus pulmões por outra via para que possa ser soprado sem interrupção, ou então que eles na verdade não estão soprando, mas criando magicamente o ar que sai de suas bocas. Seria difícil imaginar um furacão com apenas 6 litros de ar.

O Super-Homem tem alguns outros probleminhas, mas nenhum problema me incomoda mais do que ele ser supostamente um "homem". Ora bolas, ele é um extraterrestre e mesmo assim é, aparentemente, um ser da nossa espécie: Homo sapiens. Isso é impossível! Ao que eu saiba, não existe qualquer menção na historia do Super-Homem sobre Krypton ter sido colonizada por humanos. E nem poderia [ainda], pois é em outro sistema solar. Tampouco os kryptonianos colonizaram a Terra. Desta forma, nós e os kryptonianos, ao que tudo indica, não temos qualquer parentesco evolutivo. E em dois planetas diferentes, em sistemas solares diferentes, expostos à condições diferentes, nunca que uma espécie evoluiria para ser precisamente igual a uma outra do nosso planeta. Nem que os planetas fossem muito parecidos, isso não seria possível. Nem que tivéssemos todo o tempo do universo em nossa disposição. Nem no mesmo planeta isso aconteceria a partir de inícios diferentes (Lembremos do Efeito Borboleta, que diz que pequenas diferenças nas condições iniciais fazem toda a diferença). A história evolutiva de cada espécies é muito peculiar, dependendo de condições contigenciais específicas. Um meteoro que cai no planeta e causa uma extinção em massa pode mudar toda a rota evolutiva. Uma estrela que explode e emite radiação pode influenciar as mutações. Para que em Krypton e na Terra evoluíssem exatamente duas espécies idênticas, seria preciso que as exatas mesmas mutações fossem acumuladas e isso por bilhões de anos. Ou seja, impossível. Não tenho nada contra o Super-Homem voar, ter super-força, super-audição, super-velocidade e invulnerabilidade, agora ele ser um Homo sapiens, isso já é demais. Seria mais fácil uma vaca dar um pulo e entrar em órbita ao redor do Sol.



Um problema parecido, porém com um imenso agravante, é o caso do He-Man. O mesmo ocorre como na situação anterior, isto é, na Terra e em Etérnia duas espécies evoluíram identicamente: os humanos terráqueos e os "humanos" eternianos. O agravante a mais que eu cito é a mãe do Príncipe Adam: a Rainha Marlena. Sabe-se que Marlena é uma humana terráquea. De fato, ela era uma astronauta terrestre que perdeu-se no espaço, sua nave foi bombardeada por uma chuva de asteróides e acabou caindo no planeta Eternia. Daí foi acolhida pelo Rei Randor e casou-se com ele. Nada contra casamentos entre seres humanos e extraterrestres, muito pelo contrário, por mim que casem e sejam felizes. O problema é que eles tiveram filhos: He-Man e She-Ra. Como falei anteriormente, duas espécies (sem qualquer parentesco, diga-se de passagem) de planetas diferentes, com histórias evolutivas diferentes, além de não poderem convergir para o mesmo genótipo, muito mais difícil seria a reprodução entre elas. Bem mais fácil seria um ser humano reproduzir-se com uma alface (algo mais factível do que espécies sem qualquer parentesco, pelo menos as bases do DNA de humanos e alfaces são as mesmas – talvez desse para elaborar algum híbrido ou no mínimo inserir uns genes de uma espécie na outra).

Outro poder interessante que normalmente aparece na ficção científica é a invisibilidade. Esse tema já foi abordado em vários livros e filmes. Em 1897, o famoso escritor de ficção científica H. G. Wells escreveu o romance "O Homem Invisível" (The Invisible Man), desde então vários atores já protagonizaram tal papel como Chevy Chase e Kevin Bacon (curioso é que eles não tiveram tanto trabalho atuando, já que não tinham que estar presentes na maioria das cenas). Num desses últimos filmes mais modernos sobre o tema, o ator Kevin Bacon fica invisível no filme "O Homem Sem Sombra" (Hollow Man). Nesse filme, o projeto de invisibilidade está sendo desenvolvido por uma equipe ultra-secreta de cientístas para finalidade militares. O exército requeriu o projeto para poder usar soldados invisíveis que pudessem avançar nas linhas inimigas sem serem percebidos. Realmente seria muito útil um soldado invisível (apesar disso certamente atrapalhar bastante o trabalho dos médicos caso o soldado fosse ferido – como eles iriam saber onde estava sangrando?), um soldado que pudesse entrar nos territórios inimigos, roubar planos, escutar conversas, render as tropas adversárias, matar, etc. isso tudo sem ser visto. Realmente seria de uma grande eficiência para o exército. Isso se não fosse por um pequeno detalhe: um homem invisível seria obrigatoriamente cego. Isso mesmo, cego! Ele não enxergaria nada. Ora se o homem é invisível, isso significa que a luz atravessa ele sem qualquer impedimento, atravessa inclusive os seus olhos não sendo detectada pela retina. Eu tinha pensado nisso desde que vi filmes sobre isso. É interessante verificar que outros também já pensaram no assunto. Vamos às explicações. Sabemos que a visão baseia-se no princípio da câmara escura, mas um homem invisível não tem uma câmara escura. Toda parte do seu corpo, incluindo seus olhos, seriam transparentes e possuiríam um índice de refração com ar menor do que 0,05. No funcionamento do olho, as lentes cristalinas refratam a luz para produzir uma imagem dos objetos do ambiente na retina. Contudo, sendo a refratibilidade do olho igual a do ar, a única causa de refração é removida, e a luz passará através do olho do homem invisível sem ser percebida, não sendo refratada nem retardada, pois não há pigmentação. Em resumo, o homem seria invisível, mas também seria cego, ninguém o veria e ele, da mesma forma, não veria ninguém (acho que um exército de homens cegos não iria ajudar muito, talvez atrapalhasse até mais). O que significa que esse poder não adianta muita coisa.

Por enquanto são esses os super-poderes que eu me lembro terem me incomodado. Espero escrever ainda sobre outros casos numa futura oportunidade. Comentários e dicas de outros super-poderes são bem vindas.

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Conversando com um amigo sobre alguns poderes do super-homem, ele me esclareceu a questão do "super sopro" e deu uma explicação plausível. Na verdade, como os kryptonianos são como baterias que captam, armazenam e usam energia solar, o seu corpo tem uma super resistência e força. Desta forma, no caso da cena do furacão causado por um "super sopro", mesmo que o volume do pulmão deles seja limitado, com sua super força eles podem inspirar muito mais ar do que o normal tal que fique extremamente comprimido, como se fosse um tubo de oxigênio. Assim, guardando ar comprimido ao extremo, poderiam ter uma pressão suficiente dentro dos pulmões para solta-lo rapidamente e mesmo assim durante muito tempo. Então realmente faz sentido o "super-sopro" e não desvirtua as leis da física, pois eu não tinha atentado para a questão do ar comprimido em altíssima pressão.

sábado, fevereiro 17, 2007 11:34:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Já que vc não mencionou então deve achar possível os super heróis atravessarem matéria, como no caso da ShadowCat dos X-Men. Explique então como isso seria possível?

segunda-feira, fevereiro 26, 2007 8:59:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Eu não mencionei centenas de super-poderes, mas nem por isso eu acho que sejam possíveis. Ainda pretendo comentar sobre outros no futuro, em outros posts. Existem alguns super-poderes que usam "mágica" (no sentido de forças sobrenaturais), digamos assim, como aparentemente deve ser o caso da ShadowCat de atravessar matéria (paredes, por exemplo) ou então o caso de feitiços lançados por bruxas e magos como o caso de Gandalf, no Senhor dos Aneis. Contra mágica eu não posso dizer nada, pois está fora do escopo abrangido pela ciência. E afinal de contas, mágica é mágica.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007 2:45:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Mas mágica não é o caso dos X-Men!

segunda-feira, fevereiro 26, 2007 3:01:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Os X-Men supostamente seriam seres que teriam "evoluído" de alguma forma. Aparentemente eles sugerem que teria sido pela Evolução das Espécies, assim como qualquer ser neste planeta, inclusive isto é a explicação de abertura do primeiro filme dos X-Men, quando a Jean Grey dá uma palestra sobre aceitação dos mutantes na sociedade. Ela diz: "Em todo organismo na Terra, existem genes mutantes - o Fator-X, como ficou sendo conhecido. Este é o bloco de construção básico da evolução - a razão pela qual evoluímos do Homo habilis para o Homo erectus, para o Homo sapiens, ... um gene mutante diz ao corpo quando deve se adaptar ao novo ambiente, um processo sutil levando normalmente milhares de anos... Por razões ainda desconhecidas por nós, estamos entrando num outro estágio de evolução". Existem vários problemas com esta explicação. Em primeiro lugar, as mutações genéticas são completamente aleatórias e cegas. Não existe esse negócio de "Fator-X", onde supostamente um gene mutante específico "diria" ao corpo quando se adaptar (além do mais, todos os genes podem sofrer mutação). As variações ocorrem aleatoriamente e os indivíduos são selecionados não-aleatoriamente pela seleção natural, consequentemente adaptando as populações ao ambiente. Para que surgisse um X-Man com todos aqueles poderes, seria preciso que milhares de mutações ocorressem simultaneamente em uma única geração para gerar um indivíduo como aqueles poderes. Ainda por cima, existem milhares de X-Men, cada um com poderes diferentes e específicos, ou seja, seria preciso que milhares de conjuntos de mutações ocorressem simultaneamente, cada indivíduo mutante tendo um conjunto de mutações específicas que proporcionasse os poderes. Isso definitivamente não é explicado pela Teoria da Evolução das Espécies. Outra coisa, de acordo com a Teoria da Evolução, não são os indivíduos que evoluem, são as populações. Então, deveria pelo menos existir um pequeno grupo (talvez algumas centenas) de indivíduos que possuíssem exatamente os mesmos poderes para tornar mais verossímil a proposta dos X-Men. Eu não vejo outra explicação para o surgimento de um X-Man que não seja mágica. Os poderes dos X-Men supostamente não são mágicas, mas muitos casos se não for isso, realmente não sei o que seria. Que bom que pelo menos a Jean Grey assume que são "razões ainda desconhecidas".

quarta-feira, fevereiro 28, 2007 10:31:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Esse negócio de surgimento repentino de seres com poderes extraordinários, me lembra o Peixe-Babel. Ele é descrito no livro "O Guia do Mochileiro das Galáxias" de Douglas Adams. O Peixe-Babel é pequeno, amarelo e parecido com uma minhoca, e provavelmente a coisa mais estranha do Universo. Alimenta-se da energia de ondas cerebrais recebidas não pelo seu portador, mas por quem está perto dele. Ele absorve todas as frequências mentais inconscientes desta energia cerebral para nutrir-se. Depois ele excreta na mente de seu portador uma matriz telepática formada pela combinação do pensamento consciente através de frequências com sinais nervosos coletados do discurso daquele que está falando. A prática disso é que se você enfiar um Peixe-Babel no seu ouvido, você pode instantaneamente entender qualquer coisa dita para você em qualquer forma de linguagem. Resumindo, um Peixe-Babel traduz qualquer língua de qualquer povo de qualquer lugar do Universo e transmite pra você telepaticamente na sua língua. Assim, povos alienígenas podem usa-lo para entender uns aos outros. Definitivamente, esse tipo de complexidade é tão improvável de acontecer por sorte e também não poderia ter evoluído pela seleção natural (considere que ele traduz qualquer língua do Universo, logo não pode ter sido uma evolução local, e evolução para resolver problemas locais é exatamente uma das bases da Teoria da Evolução). Assim sendo, só pode ter sido criado por mágica. Inclusive o autor do livro usa o Peixe-Babel para provar a inexistência de Deus. A prova é a seguinte. Deus recusa-se a provar que Ele existe, pois se provasse não seria necessário ter fé, e sem fé Deus não é nada. Em contrapartida, se um Peixe-Babel existe, sendo impossível seu surgimento pela evolução e tão improvável de ter surgido por mero acaso, deve ter sido criado por algum ser inteligente propositalmente, e isso definitivamente prova que Deus existe. Então, se um Peixe-Babel prova que Deus existe, logo Deus não existe, pois não seria necessária mais fé.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007 10:57:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Um viva ao Peixe-Babel!!!!!!!!

quarta-feira, fevereiro 28, 2007 2:56:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

só um detalhe Juliano: da mesma forma que os autores tem a liberdade criativa para inventar os super-herois e seus poderes, eles criam o universo em que esses herois vivem, que pode ser muito parecido com o nosso, mas não é o mesmo. Resumindo, as leis da física lá pode não ser as mesmas daqui
:P

exemplo tosco: Dragon Ball (euheuheueh) aparementemente no universo deles não tem muito problema em morrer...

terça-feira, março 13, 2007 11:16:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Leo, pode ser. Tipo, a Terra Média do Senhor dos Aneis. Beleza! Mas a maioria dos super-heróis supostamente vive no planeta Terra e no nosso universo. E até citam pessoas históricas e locais reais. É nesses casos que eu comento.

terça-feira, março 13, 2007 4:08:00 PM  

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