terça-feira, 27 de março de 2007

Desdobramentos e Polêmicas sobre a Lei de Murphy

Gostaria de comentar um pouco mais sobre a Lei de Murphy e alguns dos seus desdobramentos e polêmicas. Quando eu pesquisava para escrever o meu texto anterior, "Burlando as Leis da Natureza", verifiquei alguns textos interessantes sobre essa poderosa lei. Alguns chegam a dizer que é "a propriedade mais fundamental do universo" enquanto que outros mais céticos dizem que "trata-se apenas de superstição e que não viola as leis da física".

Estudos sérios já foram feitos sobre isso. O físico inglês Robert Matthews da Universidade Aston estudou os fundamentos científicos da Lei de Murphy e ganhou o Prêmio IgNobel de Engenharia em 1996 quando demonstrou empiricamente que, de fato, o pão cai, na maioria das vezes (na verdade, quase todas as vezes), com a manteiga para baixo. O Prêmio IgNobel é dado a cada ano desde 1991 para os experimentos mais estranhos, inúteis e ridículos que sejam baseados em fatos reais e o seu objetivo é aumentar o interesse na ciência. Algumas das pesquisas ganhadoras vêm de diversas áreas, por exemplo: (1) Matemática: cálculo do número de fotos que devem ser tiradas para que se tenha certeza de que todos os componentes de um grupo apareçam com os olhos abertos; (2) Acústica: realização de experimentos que determinam o motivo de o barulho que as unhas fazem sobre um quadro-negro ser tão irritante; (3) Medicina: término de soluços incuráveis mediante uma massagem retal digital; (4) Ornitologia; estudo que explica porque o pássaro pica-pau não sofre de dor de cabeça; e muitos outros. Uma lista dos ganhadores é divulgada em cada ano.

Quanto à Lei de Murphy, Robert Matthews acredita que esses pequenos aborrecimentos diários são resultados de princípios elementares da matemática e da física e que nada tem a ver com azar. A falácia lógica da "Seleção das Observações Favoráveis" é uma das explicações para a Lei de Murphy. Em outras palavras, nós lembramo-nos mais fortemente de eventos isolados que tenham tido um certo impacto na nossa vida e ignoramos completamente as vezes que outras possibilidades menos impactantes ocorreram. Isso se dá pela nossa falta de prática em lidar corretamente com as probabilidades estatísticas. Isso pode se dar para eventos que deram certo ou quem deram errados. Por exemplo, uma pessoa sonha com certa coisa (que alguém da família sofreu um acidente ou morreu) e no outro dia, ou pouco tempo depois, aquele evento torna-se realidade. Daí associamos o sonho com o evento e dizemos que foi um "presságio". Mas ignoramos por completo e não contamos todas as vezes que sonhamos com algo e que nada ocorreu. E também não consideramos que existem centenas de milhões de pessoas que sonham todos os dias e que, certamente, é bem provável que alguma delas sonhe com algo que acabe se realizando.

No livro "Desvendando o Arco-Íris", do biólogo Richard Dawkins, são explicadas várias dessas associações indevidas que fazemos. Um exemplo que achei interessante é quando ele sugere um cenário onde um "médium" se apresente na televisão e que peça aos telespectadores que peguem um relógio e com a "força do pensamento" o tal "médium" iria fazer o relógio parar. E se depois disso, num intervalo de, digamos, 5 minutos, algumas pessoas ligassem para o estúdio dizendo espantadas que seus relógios tinham parado, certamente isso daria uma certa credibilidade aos poderes do "médium" e as pessoas acreditariam que ele tinha "poderes sobrenaturais". Porém, analisando melhor a situação, verificamos que nada de estranho teria ocorrido, e a explicação é simples. No livro, Dawkins citou algumas cifras e fez uns cálculos: a audiência do programa televisivo (considerando que seja de 10 milhões de telespectadores); a quantidade de intervalos de 5 minutos que cabem dentro de 1 ano (pouco mais de 100 mil intervalos); o tempo médio de vida útil de uma bateria de relógio (aproximadamente 1 ano, isto é, um relógio comum qualquer pára, em média, 1 vez por ano); a probabilidade de um relógio qualquer parar num intervalo qualquer de 5 minutos dentro de 1 ano (ou seja, se um relógio pára 1 vez por ano e existem 100 mil intervalos de 5 minutos em 1 ano, a chance é de 1 em 100 mil). Bem, você pode pensar que 1 chance em 100 mil é uma probabilidade bem baixa, e realmente é. Mas num universo de 10 milhões de telespectadores, mesmo que apenas metade deles estivesse usando relógios, poderiamos esperar que aproximadamente uns 25 relógios parassem. Se desses 25 telespectadores, apenas um quarto deles (umas 6 pessoas) ligasse para o programa, já seria um bom retorno para o truque. Ora bolas, tudo dentro da margem de probabilidade esperada. Talvez até pessoas cujos relógios teriam parado algumas horas antes, algumas horas depois, no dia anterior, ou no dia posterior, ainda atribuíssem isso aos poderes do "médium". Mais uma vez, pessoas associando eventos indevidamente só porque não estão acostumadas a lidar com as leis da probabilidade.

Nós contamos todas as vezes que, num molho de várias chaves, escolhemos a chave certa por último (isso marca nossa memória), contamos quando a máquina registradora do supermercado tem que trocar a fita na nossa vez (isso marca nosso dia), contamos sempre que a pessoa "chegou logo depois que você saiu, se estivesse esperado mais um pouco..." (isso nos chateia), contamos sempre que um sonho "premonitório" previu o que iria acontecer (isso nos dá poderes mágicos), mas ignoramos por completo todas as vezes que nada disso acontece, ou seja, cometemos a falácia de "contar as vitórias e esquecer os fracassos" (ou no caso da Lei de Murphy, "contar os fracassos e esquecer as vitórias.").

Voltando ao assunto, o físico Robert Matthews ficou intrigado com o fato de que livros, torradas ou qualquer objeto de formato semelhante terem uma tendência natural de caírem de cabeça para baixo. Ele pesquisou e verificou que: "O torque gravitacional não é suficiente para que eles girem completamente sobre si mesmos antes de chegarem ao chão. A distância entre a borda da mesa e o solo só permite que ela dê meia-volta. Isso não tem nada a ver com azar, com o fato de um lado da torrada estar coberto de manteiga ou com a ação de algum gnomo invisível. É pura ciência básica. Se a distância entre o topo da mesa e o chão fosse maior, o resultado seria diferente e é provável que o lado da manteiga estaria salvo.". Ele concluiu também que se as mesas fossem maiores, então os objetos teriam tempo de girar completamente, porém isso não é conveniente e nem confortável à anatomia humana. E explica o motivo dos seres humanos não serem maiores: "Qualquer ser bípede e de forma cilíndrica, como os seres humanos, não pode ter mais de 3 metros de altura. Pelas leis da física, acima desse porte ele correria risco de vida. Um homem ou uma mulher com 3 ou 4 metros de altura quebraria facilmente a cabeça numa queda. Para que uma torrada caísse com a face amanteigada para cima, seria necessário que a mesa tivesse acima de 2 metros de altura. Isso nunca será possível porque a adaptação dos seres humanos às leis da física impede que tenham estatura muito maior que a atual.". Os defensores da Lei de Murphy poderiam argumentar que essa lei atuou juntamente com a Seleção Natural e com as outras leis da física, ou seja, sendo assim uma propriedade básica do universo. As leis do universo são tais que, fica inviável seres bípedes muito altos (uma área do "espaço de projeto" que a evolução das espécies não consegue atingir), logo nunca serão produzidas mesas muito altas e os pães estão fadados a sujar o chão com manteiga ou geleia.

O cientista ainda deu algumas soluções para o impasse: "Uma solução seria passar a manteiga na face de baixo da torrada, mas isso iria complicar muito a vida das pessoas. Pode parecer estranho, mas se uma torrada estiver caindo da mesa o melhor a fazer é dar-lhe um tapa na horizontal. Isso vai aumentar a sua velocidade e impedi-la de virar. Não salva a torrada, mas evita ter de limpar a manteiga no chão.". Mesmo explicando cientificamente o motivo físico da alta probabilidade do pão cair com a manteiga para baixo e mostrar que isso não tem relação com forças sobrenaturais, ainda existem muitos crentes na Lei de Murphy. Encontrei um testemunho de um homem que contou: "Minha esposa estava preparando o café da manhã quando, logo depois de passar patê na mesma, uma fatia de pão decidiu cair no piso da cozinha. Surpreendentemente, a fatia caiu com o patê para cima, aparentando ter contrariado a Lei de Murphy. Minha esposa, espantada, pegou a fatia para jogar do lixo e comentou em voz alta: 'Engraçado, a Lei de Murphy falhou dessa vez'. Foi só ela falar e a fatia escorregou da mão dela caindo com o patê no chão. Algumas vezes eu penso que a Lei de Murphy é a propriedade mais fundamental do Universo.". Um outro testemunho: "...outro dia eu derrubei uma fatia de pão a menos de 10 cm do fogão (era uma distância menor do que a largura da fatia de pão de forma) e a maldita fatia conseguiu virar e cair com a margarina pra baixo...”. A polêmica continua e ainda não há um consenso sobre o assunto. Azar ou leis básicas da física?

Outra conseqüência perturbadora da Lei de Murphy gerou um debate que se estende até hoje, uma questão que desafia a força da Gravidade. Antes de comentar sobre isso, quero fazer um breve parênteses. Muitas descobertas científicas ocorreram por acidente ou quando juntamos assuntos de áreas diversas que aparentemente não possuem ligação, sem que seus pesquisadores se dessem conta de que estavam diante de algo importante. Por exemplo, a penicilina, que foi o primeiro antibiótico usado com sucesso e evitou a morte de milhares soldados na Segunda Guerra Mundial, foi uma descoberta totalmente acidental feita em 1928 por Alexander Flemming. Ele trabalhava com culturas de bactérias e, certo dia, saiu e esqueceu-se de fechar a porta do seu laboratório, que ficou entreaberta, e suas culturas de bactérias ficaram expostas. No andar de baixo, outro cientista fazia uma pesquisa com fungos. Partículas desse fungo foram levadas pelo ar e entraram no laboratório de Flemming, contaminando algumas de suas amostras de bactérias. Num outro dia, ele voltou e percebeu que tinha sido formado um bolor nas suas amostras e que ao redor das colônias de fungos que tinham ali crescido não havia bactérias. Ele demostrou que o fungo produzia uma substância responsável pelo efeito bactericida, que ficou sendo conhecido com Penicilina. Flemming recebeu o Prêmio Nobel de Medicina pelo trabalho que desenvolveu com esse antibiótico.

Outra descoberta acidental foi a radiação cósmica de fundo. Essa radiação é uma evidência do Big Bang. É um espectro térmico de radiação que preenche todo o universo. Quando a Teoria do Big Bang foi proposta na década de 1920 pelo padre e astrônomo belga Georges Lemaitre, os astrônomos começaram a estudar as medições feitas por Edwin Hubble sobre o desvio para o vermelho do espectro das galáxias (que indicava que estavam se distanciando umas das outras, ou seja, o universo estava se expandindo), estudaram as equações da teoria e concluíram muitas coisas sobre como teria sido o universo há alguns bilhões de anos, quando as galáxias estavam mais próximas. Em 1948, George Gamow, Ralph Alpher e Robert Herman previram que, se realmente o Big Bang tivesse acontecido, deveria existir uma radiação cósmica de microondas que permeasse o espaço sideral. Ele chegaram até a estimar a temperatura que essa radiação deveria ter, que seria de aproximadamente 5 graus Kelvin (ou seja, -268 graus Celcius). Mas nunca ninguém tinha detectado nada dessa radiação. Dezessete anos depois, outros cientistas que não tinham nada a ver com a história, chamados Arno Penzias e Robert Wilson, trabalhando para os Laboratórios de Telefones Bell, construíram um radiômetro que pretendiam usar para experiências de radioastronomia e comunicação via satélite. Sendo que o instrumento deles estava captando um ruído térmico excessivo que eles não conseguiam explicar. Viravam seu instrumento pra todo lado, pra cima, pra baixo e o mesmo ruído era detectado não importando pra onde eles mirassem. Então Penzias se deu finalmente conta que aquele ruído nada mais era do que a radiação cósmica de fundo que tinha sido predita vários anos antes e com uma precisão altíssima para a temperatura que tinha sido estimada. A dupla ganhou o Prêmio Nobel de Física pela descoberta.

Sim, chega de papo, voltemos aos desdobramentos da Lei de Murphy. Juntando essa lei com outro conhecimento que não tem nada a ver, podemos descobrir um mecanismo muito poderoso: a anti-gravidade. É isso mesmo! Um mecanismo anti-gravidade como aquele usado pelos Jetsons, pelo skate de Marthy McFly no filme "De Volta Para o Futuro II" e pelas naves alienígenas dos filmes. Essa proposta já vem sendo seriamente discutida há algum tempo, por muita gente e dá margem à muitas controvérsias (inclusive sobre direitos dos animais, como veremos logo a seguir). Dois fenômenos da natureza muito bem definidos: (1) Mais que comprovado pela observação cotidiana sabemos que um gato que for lançado de uma janela ou outro lugar elevado cairá de pé, com as patas para baixo, estável sobre suas patas; (2) Esta comprovado também por estudos científicos sérios (vide pesquisa do premiado físico Robert Matthews, comentada acima), que ao soltar da mesa em direção ao chão um pedaço de pão com manteiga, ele vai cair com o lado da manteiga para baixo (Lei de Murphy). Propõe-se então: amarrar um pedaço de pão com manteiga, com o lado da manteiga para cima, nas costas de um gato. Um verdadeiro paradoxo. Uma resposta óbvia seria: anti-gravidade. Se o conjunto (gato + pão com manteiga) estiver caindo, a natureza não encontrará nenhuma maneira de resolver o paradoxo. Portanto eles não caem. Simples assim!

Se você pegar um gato com esse pão amanteigado amarrado às suas costas, a medida que aproximarem-se do chão, o gato vai forçar que ocorra um giro para que ele caia em pé. Quando o gato estiver nessa posição, o pão com manteiga vai girar o sistema mais uma vez para cair com a manteiga para baixo. E assim por diante, o conjunto vai entrar em rotação contínua sem nunca tocar o chão. A altura onde vão estacionar será aquela onde as forças de repulsão felinas e manteigologicas estiverem em equilíbrio. Alguns ainda suspeitam que as naves espaciais alienígenas têm, em seus porões, centenas de gatos amarrados a pedaços de pão com manteiga. Isso explica muita coisa estranha que os discos voadores fazem, como, por exemplo, andar naquele padrão ziguezagueante: são os gatos e o pão com manteiga lutando por equilíbrio.

Uma possibilidade é que, durante o processo, o gato morresse de tontura (ou apenas ficasse temporariamente inconsciente) depois de algum tempo, desta forma, o pão com manteiga ganharia a "disputa", pois gatos mortos (ou inconscientes) não possuem a propriedade de cair sempre de pé, e o pão, finalmente, iria cair com a parte de manteiga virada pro chão. Por outro lado, se o gato agüentasse tempo suficiente, talvez a manteiga escorresse por causa da força centrífuga causada pela rotação do sistema e o pão perderia sua propriedade de cair com o lado amanteigado para baixo. Nesse caso, sem a manteiga no pão, o sistema colapsaria na situação favorável ao gato, caindo em pé. Bem, fica aí a proposta pra quem quiser analisar.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Quem foi Murphy?

quinta-feira, março 29, 2007 7:06:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Eu falei sobre ele no texto anterior: "Burlando as Leis da Natureza". Ele foi um engenheiro aeroespacial da Força Aérea Americana. Daí aconteceu um problema numa pesquisa que ele fazia e ele criou a Lei de Murphy: "Se alguma coisa pode dar errado, então ela vai dar errado.".

quinta-feira, março 29, 2007 9:09:00 AM  
Blogger Elizeu Neto said...

Eu torço pro pão com manteiga cair pra baixo, pq detesto gato!!! mesmo q tenha q pegar outro pão!!
heheheheh

quarta-feira, abril 04, 2007 9:03:00 AM  

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